A trajetória de sucesso de Duda e Ana Patrícia no vôlei de praia foi construída à base de muito esforço e alguns percalços que tiveram relevância nesse caminho rumo ao ouro olímpico. Após subir ao topo do Olimpo com a vitória histórica para o Brasil na modalidade, a dupla relembrou as dificuldades e a superação para chegar ao sucesso. E isso incluiu perdas familiares e problemas de saúde.
Uma, sergipana de São Cristóvão. A outra, de Espinosa, interior de Minas Gerais. E uma parceria que foi formada nas categorias de base. Duda e Ana conquistaram, quando eram adolescentes, a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude de Nanquim-2014 e dois Mundiais Sub-21. Mas depois disso cada uma seguiu seu caminho com outras parcerias. O time voltou a se reunir há três anos, logo depois dos Jogos de Tóquio-2020, realizados em 2021 por causa da pandemia de covid-19, e a amizade dos tempos de base engatou uma sequência primorosa: além de levarem campeonatos brasileiros, as meninas foram campeãs e vice nos Mundiais adulto (2022 e 2023), campeãs dos Jogos Pan-americanos de Santiago-2023. Para completar a coleção, o ouro nos Jogos Olímpicos de Paris-2024.
Mas nas últimas duas temporadas, as meninas tiveram que lidar com dificuldades. Primeiro foi Duda, que teve um baque emocional ao perder um ente querido e fundamental na família. No ano passado, a avó dela, Edite, faleceu. Isso aconteceu durante a disputa do Mundial, no México. Duda teve que se reerguer diante da situação de não ter mais ao lado o pilar da família.
“A minha família deve tudo à minha avó, pois minha mãe foi adotada por ela. Sem ela não estaria aqui. Sonhei com minha avó esta semana, que ela me abraçava. Sei que ela está no céu nos iluminando”, relatou Duda logo após ter passado para a disputa da final olímpica em Paris.
Já Ana Patrícia também conviveu com dores emocionais no início deste ciclo e teve outro obstáculo para enfrentar justamente no ano olímpico. Além do abalo psicológico após a sua participação nos Jogos de Tóquio, em que ela sofreu ataques nas redes sociais, Ana revelou que há seis meses convive com dores físicas diárias por causa de um problema de saúde.
“Pós Tóquio foi muito difícil, pois recebi bastante ‘hate’ nas redes sociais. As pessoas falaram que eu deveria parar de jogar e eu cheguei a cogitar isso. Graças a muita gente, principalmente Duda, não aconteceu. Além disso, descobri uma hérnia lombar neste ano e passei a sentir muitas dores desde então. Cheguei a não conseguir treinar mais do que 40 minutos por dia e pensei que não conseguiria chegar aqui. Ganhar essa medalha e olhar para trás, por tudo o que passei, é algo especial. Agradeço a Deus e a Duda, toda nossa equipe também, por terem me ajudado”, ressaltou Ana após a conquista do ouro.
Fato é que a amizade e cumplicidade entre as duas, além dos laços familiares fortes, foram cruciais na preparação mental da dupla para os Jogos Olímpicos. Duda e Ana fazem questão de reforçar isso, sobretudo com o trabalho multidisciplinar de sua equipe, como fundamentais para transpor as barreiras e se tranquilizarem para colocar em quadra todo o vôlei que sabem. Deu certo, veio o ouro e elas agora vão celebrar o feito histórico. Bem juntas, claro.
“É a realização de um grande sonho, uma felicidade que não cabe dentro da gente. É muito difícil chegar com o peso da responsabilidade de ser o número 1 do ranking. Mas a gente aproveitou cada minuto aqui, desde a pré-temporada com toda nossa comissão técnica. Posso dizer que estou realizada pela medalha”, pontuou Ana Patrícia.
“Tenho uma mistura de sentimentos. Depois de dez anos da Olimpíada da Juventude, voltar a ser medalhistas olímpicas no adulto é sensacional. Essa comemoração vai ser eterna. E eu vou terminar a minha carreira com a Ana Patrícia, já falei para ela. Não sabemos como, quando, mas vamos terminas juntas. Unidas e felizes”, completou Duda, recebendo prontamente o ‘de acordo’ da parceira e amiga. Agora, duas campeãs olímpicas.
*Com Comitê Olímpico do Brasil