Depois de viver um dos momentos mais difíceis da carreira no Mundial de Natação de Singapura, no início do mês, Stephanie Balduccini voltou a sorrir nas piscinas. A nadadora brasileira conquistou oito medalhas de ouro nos Jogos Pan-Americanos Júnior de Assunção e revelou que a competição foi importante para recuperar a confiança e o prazer de competir.
“Foi uma competição muito divertida. O Pan Júnior de 2021 foi onde eu senti que minha carreira mais decolou. Eu lembro até hoje entre Mundial, Olimpíadas, tudo que eu já participei, o Pan Júnior de 2021 tinha sido a competição mais divertida da minha vida. Então, eu estava bem animada para, dessa vez, ser uma das mais velhas da competição e passar tempo com os mais novos. Tinha muita gente que eu não conhecia e que conheci melhor”, afirmou a atleta de 20 anos em entrevista ao site do BandSports.
“O pessoal falou, ‘Ah, você vai trazer muita experiência’. Mas eu acho que no final quem trouxe experiência para mim foram eles. Me lembraram do porquê eu amo tanto competir. E eu acho que isso facilitou ganhar os oito ouros. Eu fazia mais por eles do que eu fazia por mim. Eu fazia mais pelo Brasil”, acrescentou.
A campanha expressiva no Paraguai, porém, só foi possível após um processo de reconstrução com base no apoio da família e do auxílio psicológico. No Mundial de Singapura, Stephanie ficou fora da final dos 100m e dos 200m livre e precisou encarar de frente a dor da derrota depois de muita preparação.
“Foi uma das coisas mais difíceis que eu tive que fazer emocionalmente [voltar a competir após o Mundial]. É difícil, porque eu amo competir. Com certeza tem a ver com a ajuda que meus pais me proporcionaram. Eu chorei bastante. Eu falei, tipo, ‘qual é o ponto de eu ficar treinando tanto se eu vou chegar no topo do mundo e ficar sem chão?’ O resultado do Mundial, para mim, foi algo muito difícil de absorver. Eu tinha passado o verão inteiro nos Estados Unidos, até lá não tinha problema, porque eu estava fazendo o que eu amava, mas… foi um período muito difícil. Aconteceram várias coisas pessoais que poucas pessoas sabem. Tive que seguir em frente. Eu estava fazendo treinos muito bons. Realmente acreditava no fundo do meu coração que dava para lutar por uma medalha, lutar por uma vaga na final”, comentou.
“Não foi nem um pouco do jeito que eu achava que ia ser. Eu me dei uns dias para realmente sentir a dor que eu estava sentindo. Não adianta empurrar com a barriga e achar que vai embora porque não vai. É mais fácil você lidar de frente. Mas aí, de novo, eu tive a ajuda da minha mãe e dos psicólogos do Time Brasil. Graças a eles que eu consegui levantar de novo. E da molecada mais nova, né? Porque eu conheci muitas pessoas que me pediam ajuda. Para mim, era o pior estado da minha carreira. E fiquei feliz de saber que as pessoas mais novas ainda queriam saber da minha experiência. Estava com a confiança tão baixa, e olhar para alguém que estava com uma admiração tão alta me fez me sentir melhor”, continuou ela.
A preocupação com a questão mental ganhou mais importância na carreira de Stephanie no ano passado, quando uma apendicite às vésperas da seletiva olímpica a fez aceitar a ajuda de um profissional.
“Na natação você vira muito perfeccionista. Como muitos esportes, mas eu digo natação porque eu sou nadadora. E ao longo do tempo, eu ganhei essa necessidade de ter um senso de controle com tudo. É muito difícil, mas realmente eu acho que é uma característica minha, que dá certo em alguns aspectos, mas dá errado em muitos outros”, contou ela.
“A apendicite, para mim, foi um momento que eu fiquei: ‘Meu Deus, o que que eu vou fazer?’ É completamente fora do meu controle. O meu órgão não tá funcionando, e uma dor… Mas eu fui aberta a ajuda de um profissional, que me ajudou bastante a entender o que eu posso e não posso controlar. Acho que com o Mundial foi um pouco mais difícil, porque você nadar mal é uma coisa, mas aí, por eu sentir que eu fiz tudo o que eu podia e não nadei bem, eu acho que, para mim, foi mais difícil, porque aí chega o negócio de controle. Você não sabe o que mudar para que possa nadar bem.”
Agora, Stephanie planeja um período de descanso antes de voltar às competições. Com os Jogos Olímpicos de Los Angeles-2028 no horizonte, a nadadora reforçou que a preparação vai além da piscina.
“Vou tirar umas férias agora. Eu acho que estou muitos anos sem parar. Quanto mais velha eu fico, mais meu corpo demora a recuperar. Então, vou tirar umas férias. Depois vou voltar para os Estados Unidos e começar a temporada lá. Vou competir um pouco até o final do ano e aí no começo do ano que vem já começa a NCAA de novo”, detalhou ela, citando o campeonato universitário norte-americano.
“Para o ano olímpico, melhorar um pouco a minha autoestima vai afetar bastante a minha performance. É seguir competindo e treinando. Eu realmente não acho que os meus treinos nos Estados Unidos estão me atrapalhando. Desde que eu me mudei, eu melhorei. Então, eu acho que é fácil julgar quando não sabe o que está acontecendo lá no dia a dia. Estou feliz onde estou, no sentido de que os treinos estão fortes. Claro, a gente bota a meta, hoje seria uma medalha olímpica. Mas tem que ir ano a ano, conquista por conquista. É bom olhar no período mais curto do que no mais longo”, finalizou Stephanie.






